Como a indústria gaúcha recuperou nível de produção pré-pandemia em cinco meses

novembro 11, 2020 0 Por Site Fetransul

Incertezas sobre coronavírus e escassez de insumos desafiam reação nos próximos meses

Estimulada pela melhora no mercado interno, a indústria gaúchareforça os sinais de reação. Desde maio, o setor apresenta resultados que trazem otimismo após o tombo provocado pelo coronavírus. Nesta terça-feira (10), houve a divulgação de novo dado positivo. Em setembro, a produção das fábricas do Estado engatou a quinta alta consecutiva e, assim,retomou o nível pré-pandemia, apontou pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 

Segundo o órgão, o indicador subiu 4,5% frente a agosto. Com o quinto avanço em sequência nessa base de comparação, o patamar de produção ficou um pouco acima do verificado em fevereiro, quando a covid-19 ainda não restringia os negócios. Em relação a setembro de 2019, a alta chegou a 5,8%.

Apesar do alívio, o setor ainda não espantou todos os números negativos. A produção acumula queda de 10,4% em 2020, em um sinal de que as fábricas já encaravam dificuldades antes do coronavírus. Em 12 meses, a baixa foi de 8,6%.

Em parte, a melhora recente espelha a reabertura do comércio em grandes centros urbanos. Com a retomada das lojas, houve incentivo à produção das fábricas. Programas de suporte à economia, como o auxílio emergencial, também beneficiam os negócios.

A sinalização de retomada já havia sido detectada por indicador calculado pela Federação das Indústrias do Estado (Fiergs). Em setembro, o Índice de Desempenho Industrial (IDI-RS) cresceu 4,6% frente ao mês anterior, conforme dados divulgados pela entidade no último dia 3. Foi a quinta elevação consecutiva. 

O IDI-RS é um termômetro da atividade do setor. Ou seja, mede um conjunto de questões, incluindo faturamento, horas trabalhadas e uso da capacidade instalada nas empresas. Mesmo com os avanços, ainda está 1,2% abaixo do nível de fevereiro. Presidente da Fiergs, Gilberto Porcello Petry avalia que o indicador deve alcançar o patamar pré-pandemia em outubro.

— Estamos chegando ao nível de atividade de antes da pandemia. Houve setores na indústria que não tiveram quedas tão massivas, enquanto outros sofreram muito — avalia Petry.

Instalada em Porto Alegre, a IMS Soluções em Energia é uma das empresas que atestam o movimento de otimismo dos últimos meses. Com a chegada da pandemia, a fábrica sentiu retração nos negócios. Mas, em seguida, a demanda voltou a crescer dentro do país, relata Débora Presotto, diretora da companhia, que tem cerca de 45 funcionários.

Segundo a empresária, as perspectivas são positivas para o restante do ano. A IMS desenvolve equipamentos que avaliam a qualidade do consumo de energia elétrica. Os produtos buscam, por exemplo, reduzir custos para empresas.

— O começo da pandemia foi bem difícil. Praticamente todos os pedidos pararam. Mas, passados os dois primeiros meses, o mercado retomou, e continuamos crescendo. Vemos uma reação na indústria nacional — conta Débora.

O IBGE também apresenta dados regionais de produção, por setores, em relação a igual período do ano anterior. Em setembro, dos ramos 14 pesquisados, nove ficaram no azul no Estado. A maior alta, de 137,7%, foi registrada por produtos de fumo. No ano, o segmento acumula avanço de 6,9%.

— Empresas pararam no início da pandemia. Na sequência, recomeçaram as operações seguindo os protocolos sanitários. Isso fez com que os processos fossem postergados — afirma Iro Schünke, presidente do Sindicato Interestadual da Indústria do Tabaco (Sinditabaco). — Considerando a pandemia, conseguimos nos virar bem neste ano — emenda.

Em setembro, o segundo maior crescimento, de 24%, foi na produção de itens de metal, exceto máquinas e equipamentos. Em seguida, apareceu o ramo de borracha e material plástico (16,7%). 

A outra ponta foi ocupada por couros, artigos para viagem e calçados. O segmento, um dos mais prejudicados pelo coronavírus, amargou queda de 13,4% frente a igual mês de 2019.

Segundo o IBGE, nove Estados recuperaram, em setembro, o patamar de produção pré-pandemia.

Segunda onda e escassez de insumos no radar

Há pelo menos dois fatores que tendem a desafiar a recuperação da indústria gaúcha no curto prazo. O primeiro é o nível de incertezas relacionadas à pandemia. Na Europa, por exemplo, países vivem segunda onda de casos de coronavírus. O outro fator é a escassez de insumos, que ganhou corpo nos últimos meses. 

O baixo nível de estoques tem ligação com a parada de indústrias na fase inicial da covid-19. Agora, com a reabertura da economia global, a procura por itens diversos aumentou. Ou seja, criou-se um descompasso entre oferta e demanda.

Pesquisa recente da Fiergs ilustra essa situação. Segundo o estudo, divulgado no último dia 29, 70% das empresas gaúchas afirmam enfrentar dificuldades para conseguir insumos no mercado doméstico. A escassez acaba freando a produção das fábricas.

— Os estoques diminuíram. Uma melhora deve ocorrer só em janeiro ou fevereiro — projeta o presidente da Fiergs, Gilberto Porcello Petry.

Mesmo com os obstáculos, o dirigente diz avaliar o cenário para a indústria de forma otimista. O presidente do Simecs, Paulo Spanholi, reforça o coro. O sindicato representa as fábricas do setor metalmecânico na região de Caxias do Sul.

— O terceiro trimestre foi muito bom. Tivemos uma retomada bem interessante. O setor agrícola vem puxando os negócios — pontua Spanholi.

Segundo o dirigente, indústrias da Serra, especialmente as de menor porte, seguem com dificuldades para comprar insumos como aço:

— A demanda está muito alta. Não é possível atender a todos.

Fonte: GAUCHA ZH / Leonardo Vieceli

Foto:Isadora Neumann / Agencia RBS