Publicado em ZH Dominical – Recursos estaduais para rodovias federais: por que a pressa?

Fica a sensação amarga de que vamos, cidadãos e usuários, pagar duas vezes: uma para construir, outra para a futura concessionária.

Ainda que as rodovias estaduais ou federais do Rio Grande do Sul sejam igualmente importantes para o setor de transporte rodoviário de cargas e logística, é difícil compreender o tamanho do empenho do governo estadual em repassar R$ 490 milhões para investimentos nas BR 116 Norte e Sul e BR 290. Mesmo que esteja em curso o provimento de recursos para a ligação asfáltica em 42 municípios gaúchos, outros 20 não foram contemplados pelo Programa Avançar.

Esta, aliás, seria uma escolha mais condizente com as atribuições do Estado. Mas, pelo visto, a compreensão do Executivo é outra. Nos resta, então, refletir por qual motivo há urgência em investir nas rodovias federais que – já se sabe – serão privatizadas no próximo ano, com exceção do trecho metropolitano da BR 116. Fica a sensação amarga de que vamos, cidadãos e usuários, pagar duas vezes: uma para construir, outra para a futura concessionária.

Mas a “bondade” de nosso governo vai muito além: enquanto Santa Catarina busca emplacar uma lei no Congresso Nacional para que os investimentos em rodovias federais sejam descontados da dívida estadual com a União, o RS está deixando de considerar essa perspectiva. E mais: tramita licitações para privatizar rodovias em um momento impróprio da economia. Frente a sua indiferença com os resultados fracassados da concorrência do bloco 3, agora lança edital para o bloco 2, em condições igualmente inadequadas e com projetos temerários contratados junto ao BNDES.

Se houvesse propósitos mais atentos à economia dos gaúchos, os R$ 490 milhões poderiam muito bem ser empregados nas citadas rodovias federais, em vias de privatização, como forma de reduzir as tarifas dos pedágios. Faria bem à infraestrutura e ao bolso dos gaúchos.

No entanto, como se pode constatar, o regime de urgência na votação da destinação desses recursos consagra o antigo ditado de que a “pressa é inimiga da perfeição”.

Por Paulo Ziegler, diretor de infraestrutura do Sistema Fetransul

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