Em um ano, dobra número de investidores gaúchos na bolsa de valores

agosto 19, 2020 0 Por Site Fetransul

Com juro em baixa, volume de contas na B3 pulou de 71,3 mil em julho de 2019 para 157,2 mil no mês passado

Estimulada pelojuro básico na mínima histórica, a procura por aplicações na bolsa de valores brasileira, a B3, segue em disparada durante apandemia. Em julho, o número de contas mantidas por investidores gaúchos alcançou a marca de 157,2 mil. Representa alta de 66,3% em relação a dezembro de 2019 (94,5 mil).

Ou seja, ao longo dos últimos sete meses, o Rio Grande do Sul foi responsável por quase 62,7 mil novos registros. A marca é similar à capacidade de um estádio como a Arena do Grêmio (60,5 mil lugares).

Na comparação com julho do ano passado (71,3 mil), o número mais do que dobrou, com elevação de 120,5%. Segundo a B3, o Estado é o quarto com mais investidores. Está atrás de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.

Os números levam em conta CPFs cadastrados nas corretoras, responsáveis por intermediar a compra e venda de ações de empresas na B3. Isso significa que a mesma pessoa física pode ser contabilizada mais de uma vez caso tenha vínculo com mais de uma agente financeira.

A alta verificada entre os gaúchos espelha o cenário nacional. Em julho, o número de investidores chegou a 2,8 milhões no país. Corresponde a avanço de 68,2% em relação a dezembro. Ou seja, houve cerca de 1,1 milhão de novos registros ao longo de 2020.

O crescimento coincide com o ciclo de cortes na taxa básica de juro. Neste mês, a Selic voltou a cair, atingindo a marca de 2% ao ano. Em 2016, antes de o Banco Central (BC) retomar as reduções, a taxa estava em 14,25%.

O juro na mínima histórica tem reflexos diretos nos investimentos pessoais, porque diminui o retorno de aplicações de renda fixa, como é o caso da caderneta de poupança. Nesse cenário, opções de renda variável, como compra e venda de ações na bolsa, tendem a atrair mais interessados, com a chance de ganhos superiores.

— As pessoas estão buscando maior rentabilidade — pontua o educador financeiro Leandro Rassier, professor da PUCRS.

Apesar da possibilidade de ganhos robustos, investir em ações também embute riscos. Em um dia, a bolsa pode subir bastante. Na sessão seguinte, cair em intensidade igual ou maior. Logo, buscar conhecimento e auxílio de profissionais especializados tende a ser útil.

— Antes, investidores tinham segurança e retorno na renda fixa. Era o melhor dos mundos. Isso muda com a Selic em 2% ao ano — afirma Denilson Alencastro, economista-chefe da Geral Asset.

Outro fator apontado como responsável por levar mais gente à bolsa é a publicação de conteúdos sobre o mercado financeiro na internet. Na visão de especialistas, esse fenômeno tende a despertar a atenção de grupos como os jovens. 

Conforme a B3, pessoas com 26 a 35 anos representavam 33,7% dos investidores na bolsa em julho, o que corresponde a 952,8 mil registros. É a faixa etária mais volumosa no mercado brasileiro.

— Existe muito conhecimento divulgado de forma gratuita na internet. Muitas pessoas não conheciam a bolsa. A partir do momento em que o retorno da renda fixa caiu, passaram a buscar novas alternativas — diz Adriano Severo, assessor de investimentos da Severo Educação Financeira.

Formado em Contabilidade, Stefan Hasse de Sousa, 29 anos, faz parte do grupo que migrou recentemente para a bolsa. A decisão ocorreu após o morador de São Paulo pesquisar sobre a compra e venda de ações de empresas.

— Antes, para ser sincero, tinha um pouco de preguiça. Deixava de lado o assunto. Mas aí percebi que alguns amigos estavam com um bom retorno e passei a me interessar mais. A ideia é seguir na bolsa e aumentar minha participação — relata o investidor, que viveu dos seis aos 24 anos em Porto Alegre.

Nesta terça-feira (18), o índice Ibovespa, que reflete a variação das principais ações na B3, fechou em alta de 2,48%, aos 102.065 pontos. A sinalização de que o ministro da Economia, Paulo Guedes, permanecerá no cargo trouxe alívio ao mercado.

Para entender

O que é a bolsa de valores?
É o espaço em que investidores podem comprar e vender ações de empresas. No Brasil, a bolsa que está em operação é a B3 (anteriormente chamada de Bovespa), com sede em São Paulo.

Como investir na bolsa?
É preciso que o interessado se cadastre em uma corretora registrada na Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Assim, pode abrir uma conta para iniciar as aplicações.

O que são as ações?
São pequenas partes de uma empresa. Ao abrir seu capital, uma companhia o divide em várias ações, oferecidas na bolsa a possíveis investidores. Quanto mais papéis eles comprarem, maior será a parcela na empresa.

Quais são os tipos de ações?
-Ordinárias: dão direito a voto em assembleias que debatem os rumos das empresas.
-Preferenciais: não concedem direito a voto em assembleias, mas garantem preferência no recebimento de dividendos — parcelas do lucro das companhias.

Há valor mínimo de investimento?
Não há valor mínimo. A quantia varia em cada caso, dependendo, por exemplo, do preço das ações de cada empresa.

O que é o índice Ibovespa?
É o principal índice da bolsa. Sua variação é calculada com base no desempenho das ações de grandes empresas listadas no mercado brasileiro. Quando se diz que a bolsa teve alta de 1% ao final de uma sessão, é porque o valor do Ibovespa, em pontos, também aumentou 1%.

Há riscos nos investimentos?
Sim. Investir na bolsa tem riscos. Ações de empresas podem resultar em maiores rendimentos do que opções de renda fixa, como a poupança, mas também há chance de perdas. Por quê? Em um dia, os papéis de uma companhia podem registrar alta expressiva e, na sessão seguinte, cair em igual magnitude. O sobe e desce é conhecido como volatilidade.

Fonte: GAUCHA ZH / LEONARDO VIECELI