Fetransul alerta que concessões de rodovias preveem investimentos de apenas R$ 3,7 bilhões

maio 4, 2022 0 Por Site Fetransul

Edital para escolha da empresa responsável pelas obras de instalação está previsto para sair nos próximos 40 ou 60 dias. Maioria dos municípios da região é contra a instalação, mas solicita melhorias.

A praça de pedágio prevista para ser instalada na ERS 324 entre Passo Fundo e Marau, é uma das sete praças previstas no Bloco 2 do programa de reestruturação de rodovias, elaborado pelo governo do Rio Grande do Sul com base em um estudo do BNDES e da Planos Engenharia.

A localização das praças de cobrança levou em consideração uma distância média de 50 km entre uma e outra cidade, além de observar os melhores potenciais de arrecadação em cada trecho.

No trecho entre Nova Prata e Getúlio Vargas, está previsto a duplicação entre os km 178 e 292, em um total de 114 km.

A instalação da praça de pedágio na ERS 324 ainda é incerta. O edital do Bloco 2 não possui uma data oficial para ser lançado. Enquanto isso, lideranças políticas e instituições acompanham o andamento dos projetos de melhorias, observam os impactos e apontam alternativas.

A Federação das Empresas de Logística e de Transporte de Cargas do Rio Grande do Sul (Fetransul) analisa como a instalação dos pedágios impacta na categoria.

“Nós, do transporte e logística, somos a favor do uso de capital privado para melhorar a infraestrutura rodoviária, diante do fato de que os Governos do RS não se mostraram empenhados em realizar uma gestão competente da EGR, que nesta região administra pedágios na RS 135, no Vale do Taquari e a caminho de Getúlio Vargas”, observa o Coordenador da Comissão de Infraestrutura do Sistema Fetransul, Paulo Ziegler.

Na visão de Paulo o programa de melhorias do Bloco 2 responde a necessidade de ampliar a capacidade das rodovias ao longo do Estado, no entanto, a equação econômica do projeto se mostra onerosa.

“Nos 30 anos de concessão está prevista uma arrecadação de 16 bilhões. Apenas 3,7 bilhões deste montante (23%) serão empregados em investimentos. O resto serão custos operacionais e financeiros, impostos e lucro. Ou seja, de cada 100,00 arrecadados, apenas 23,00 serão empregados no propósito final do projeto. Há um grande desperdício do esforço econômico que farão os usuários das rodovias, pois quem paga por este empreendimento não é o governo, mas sim a sociedade”, explica.

No dia 14 de abril o Governo do RS obteve o resultado da licitação do Bloco 3 (Serra Gaúcha), em que apenas uma empresa participou, tendo concedido um desconto de apenas 1,3% nas tarifas.

“Houve um fracasso. Não houve leilão. Ainda assim o governo pretende assinar o contrato com o “vencedor”, descuidando-se do interesse social e econômico das comunidades envolvidas. Teremos pedágios muito caros, por 30 anos”, afirma.

Impacto nas empresas de transporte de cargas

No Rio Grande do Sul, cada eixo de caminhão paga uma vez o preço da tarifa de automóvel cobrada pelos pedágios. Um caminhão de cinco eixos, por exemplo, paga cinco vezes o valor de um automóvel.

Situação que demonstra o impacto que a instalação do pedágio em um trecho onde empresas de transporte trafegam diariamente, poderá ter. Paulo explica que as cargas de baixo valor agregado serão mais impactadas pela cobrança.

Além também, dos muitos caminhões que vão de um destino ao outro carregado, mas que retornam vazios.

Na visão do coordenador, o pedágio no trecho entre Passo Fundo e Marau vai depender de uma licitação bem feita, na hora certa.

“Se houver a insistência em fazer de qualquer forma, ainda em 2022, poderemos ter tarifas muito elevadas. E elas vão afetar o custo dos produtos, do transporte de passageiros, enfim, o custo logístico do RS”, analisa.

Vereadores de Passo Fundo e Ampla debatem sobre instalação

A Comissão Especial de Acompanhamento da Instalação de Pedágio, instalada pela Câmara de Vereadores de Passo Fundo, e a Associação dos Municípios do Planalto (AMPLA) debateram sobre os próximos passos referentes ao edital e instalação do pedágio.

A previsão é que o edital para a contratação da empresa responsável pela instalação saia nos próximos 40 ou 60 dias. A informação foi confirmada pelo Secretario de Parceria Leonardo Busatto aos integrantes da comissão.

O prefeito de David Canabarro e vice-presidente da Ampla, Lauro Antônio Benedetti afirmou que todos os 21 municípios que integram a entidade são unanimes no que se refere a necessidade de melhorias na região, mas que a AMPLA não possui um posicionamento definido sobre a instalação do pedágio.

“Estamos discutindo mais as questões de como tudo isso deve acontecer, para que seja diferente de como está projetado, no que diz respeito as tarifas, com o que vai ser feito com os recursos cobrados”, observou.

A AMPLA cobra que a instalação do pedágio também beneficie as pontas da rodovia, como a ponte de São Domingos, a RS 129 que vai até David Canabarro, o contorno de Casca, Vanini e David.

O presidente da Comissão Especial, vereador Leandro Rosso (Republicanos) destacou que o Legislativo, assim como a Acisa Passo Fundo, que acompanha o processo, não tem uma posição definida sobre a instalação do pedágio, e que a comissão tem o objetivo de construir um relatório que possibilite a indicação de melhorias para beneficiar Passo Fundo e região.

A Comissão conta como relator o vereador Rodinei Candeia (Republicanos),  e os vereadores titulares Ernesto dos Santos (PDT), Gio Krug (PSD) e a vereadora Janaína Portella (MDB).

A reunião contou com a participação de proprietários de terras de Passo Fundo e Marau, que são contra a instalação do pedágio.

Eloisa Bedin, uma das proprietárias presentes destacou que a cobrança seria injusta para quem circula diariamente pelo trecho.

“É inadmissível falar em um pedágio, em um trecho que tem milhares de pessoas indo e vindo trabalhar e que serão diretamente penalizadas. É algo que está sendo divulgado como certo, mas eu, como cidadã, considero uma ofensa e não aceito, como a maioria da população, que não é favorável”, afirmou Eloisa.

Entre as próximas ações da Comissão Especial está a realização de uma pesquisa de opinião pública, uma ação informativa na própria rodovia, junto ao local onde está prevista a instalação da praça de pedágio, e uma audiência pública, envolvendo representantes da sociedade, de Passo Fundo e cidades vizinhas.

Fonte: Diário da Manhã