Rodovia Dutra será primeira concessão federal com sistema de pedágio de ‘livre passagem’

novembro 23, 2021 0 Por Site Fetransul

CCR venceu leilão de concessão da rodovia, realizado em outubro.

Com o chamado ‘free flow’, valor do pagamento varia de acordo com a quantidade de quilômetros rodados ou trechos percorridos

A Rodovia Dutra será a primeira concessão federal com sistema de pedágio de “livre passagem”. O chamado “free flow” é uma tentativa de equalizar os custos de pedágios e substituir a cobrança em praças físicas de pedágios instaladas no decorrer da rodovia por um sistema de custo por quilômetro rodado.

Na América Latina, o Chile é o único país que utiliza o pedágio de passagem livre de forma oficial.

Com o sistema, o valor do pagamento vai variar de acordo com a quantidade de quilômetros rodados ou trechos percorridos pelo motorista.

CONCESSÃO

Além disso, a rodovia também terá que ter sinal de Wi-Fi. As mudanças estão previstas nas regras de concessão da rodovia.

Conforme noticiado pelo Diário do Transporte, a CCR venceu o leilão de concessão da rodovia Presidente Dutra e de um trecho da Rio-Santos realizado em 29 de outubro de 2021, na B3, em São Paulo (SP).

Relembre: CCR vence leilão de concessão da Dutra e parte da Rio-Santos

ENTREVISTA

Ao Diário do Transporte, o superintendente de operações e Customer Experience da Veloe, Alexandre Fontes, detalhou as principais mudanças que devem ser esperadas com este novo modelo. A empresa é a unidade de mobilidade da Alelo.

Confira a entrevista, na íntegra:

Diário do Transporte – O que é o Free Flow? 

Alexandre Fontes – O free flow é o sistema de rodovia de pedágio aberto, ou seja, é um sistema de livre passagem sem praças de cobrança fixas como as que conhecemos hoje e no qual, o valor do pagamento varia de acordo com a quantidade de quilômetros rodados ou trechos percorridos.

Esse sistema já é uma realidade em mais de 20 países e foi aprovado no Brasil em junho de 2021. Agora está fase de regulamentação aqui no nosso país.

Aqui na América Latina, o Chile é o único país que utiliza o pedágio de passagem livre de forma oficial há pouco mais de cinco anos.

Trazendo para a realidade nacional brasileira, o estado de São Paulo já tem três projetos de free flow, localizados nas rodovias sob concessão da Colinas (Campinas), Rota das Bandeiras (Jundiaí)  e Renovias (Jaguariúna), que funcionam nas rodovias Engenheiro Constâncio Cintra (SP-360), Santos Dumont (SP-75), Governador Adhemar Pereira de Barros (SP-340) e na Rodovia Prof. Zeferino Vaz (SP 332) em estágio piloto chamado de Ponto a Ponto.

Além disso, algumas novas concessões, como é o caso da CCR que venceu o leilão da Dutra no último dia 29 por R$1,7 bilhão, já devem iniciar as operações adequadas ao novo modelo.

Como ele funciona, na prática? 

De forma prática, o sistema de Free Flow consiste na instalação de pórticos na extensão da estrada que por meio de uma tecnologia ainda a ser definida, que pode ser tag, mobile, por exemplo, faz a captura e identificação do trecho percorrido por cada veículo e dessa forma calcula automaticamente o valor correspondente ao trecho.

Dessa forma, o motorista não teria que parar em nenhuma cabine fixa de pedágio. Seria uma leitura totalmente automática e o pagamento seria feito posteriormente ao uso, trazendo muito experiência com mais agilidade e praticidade no deslocamento e proporcionando uma cobrança mais justa aos motoristas.

Como será feita a fiscalização no caso do free flow para evitar fraudes e garantir que todos os motoristas paguem o valor correto?”

A fiscalização será realizada através da utilização de câmeras de vídeo que fazem a captura da placa usando a tecnologia LPR (do inglês “License Plate Recognition”, Reconhecimento de Placas de Veículos). Dessa forma, por meio dessa informação, tanto os clientes que não utilizam a “tag” para identificação, quanto aqueles que eventualmente possuem, porém estão inadimplentes com o serviço, receberão um comunicado sobre a necessidade de pagamento por meio dos canais eleitos para este processo (digitais ou físicos). Assim, o cliente então poderá restabelecer sua situação com o pagamento/quitação dos valores devidos pelas passagens nos pontos de FreeFlow.

Quais são os principais benefícios do Free Flow? 

De modo geral, aqui na Veloe, somos bem otimistas com essa possibilidade do Free Flow, pois ela traz uma cobrança mais justa e igualitária para todos que utilizam a malha rodoviária, já que a cobrança é feita com base na quilometragem e distância percorrida e não em pontos fixos pré-estabelecidos.

Ao mesmo tempo, muda o quadro financeiro de novas concessões, ampliando as receitas reduzindo evasão de pedágio por rota de fuga, que ainda são mais comuns do que se imagina. Dessa forma, a empresa responsável pela rodovia em questão pode investir esse dinheiro em outras vertentes que sejam necessárias no momento, melhorando a experiência e a segurança dos motoristas, por exemplo.

Destacamos a contribuição que esse modelo traz para o meio ambiente, já que não há necessidade de parada em filas de pedágio evitando a emissão desnecessária de toneladas de gases de combustíveis fosseis.

Quais são as principais dificuldades de implementação? 

Antes de responder sobre as dificuldades em si, vale trazer um panorama geral que, no Brasil, apenas 30% das pessoas realizam pagamentos automáticos, enquanto 70% pagam na cabine da praça de pedágio, em dinheiro, cartão, QR Code etc. Dessa forma, a primeira grande dificuldade é cultural e educacional. É necessário ter um aculturamento dos brasileiros para essa nova forma de pagamento.

As questões de legislação, código de trânsito no que se refere a forma de cobrança, identificação do veículo e motorista também são aspectos que precisam ser levados em consideração quando falamos dessa mudança de cobrança. Sem contar que também temos a cultura já implementada dos brasileiros em relação a inadimplência de impostos e tributos obrigatórios, como IPVA, licenciamento e possíveis multas.

Outro ponto que vale ser lembrado é a grandeza territorial do Brasil. E o modal rodoviário é a principal forma de transporte e locomoção dos brasileiros. Além das inúmeras rodovias federais, estaduais, municipais, temos inúmeras estradas menores que fazem ligações entre diferentes pontos. Nossa malha rodoviária é extremamente capilarizada, com inúmeras saídas. Isso traz uma dificuldade extra na instalação desses pórticos que farão as cobranças e a contagem da quilometragem.

Além disso, temos uma dificuldade de “infraestrutura” tecnológica porque ainda não foi completamente definida qual vai ser a tecnologia homologada para que o modelo Free Flow funcione, se por leitura de placa, leitura de tag, solução mobile ou uma tecnologia própria desenvolvida para essa demanda. Ainda existem algumas possibilidades, mas nada 100% definido. Esse ponto é o menos crítico, na minha visão, uma vez que a tecnologia das tags, por exemplo, já é bastante madura no Brasil e no mundo quando falamos de cobrança automática de pedágios e também de Free Flow.

Como a tag pode ser uma boa opção para essa novidade? 

A tag é uma das tecnologias possíveis para colocar o Free Flow em prática e, acredito que, num curto prazo, é a opção mais adequada porque ela supre algumas necessidades mais básicas desse momento inicial: muitos brasileiros já usam tags de cobrança automática em pedágios e, mais do que isso, mesmo aqueles que não usam, conhecem esse meio de pagamento. De uma forma ampla, é uma tecnologia que já vem sendo trabalhada há algum tempo e que não seria mais uma novidade.

Além disso, tem o ponto que acredito que seja fundamental. Já existe uma tecnologia pronta e madura para tornar a leitura de tags real e possível no dia-a-dia por meio da tecnologia RFID, o que facilitaria a implementação nesse primeiro momento.

Falando especificamente aqui da Veloe, o nosso sistema de leitura usa quatro bases: o adesivo em si instalado no para-brisa, antena instalada na pista do pedágio, sensores na pista automática instalados na pista do Pedágio e integração da Veloe com a Concessionária que opera a rodovia. Com esses quatro pontos, é feita a leitura da tag e a identificação da liberação daquele veículo. Essa mesma tecnologia e forma de captação de informação pode ser adaptada para os pórticos do Free Flow.

A Veloe possui uma parceria com o banco C6 para oferecer tag gratuita. Como funciona essa parceria e de que forma ela contribui para democratizar o uso de tags em meio à pandemia, em que o contato com outras pessoas deve ser mínimo? 

Além de ser muito mais prático e rápido, o uso de tags de pagamento automático se tornou inclusive um ponto de segurança durante a pandemia, evitando que as pessoas precisassem entrar em contato com dinheiro e com os atendentes do pedágio. Isso ajudou a deixar os motoristas mais seguros em fazer os deslocamentos necessários nesse período que ainda estamos passando.

Falando sobre a parceria com o C6, na Veloe temos dois modelos de negócio para empresas que querem oferecer soluções de mobilidade aos seus clientes – whitelabel e cobranded. Em ambos, Veloe fica responsável pela captura e o processo das transações de pedágios e estacionamentos. O que muda é que se o parceiro quiser ficar responsável pelo relacionamento com o cliente final, o que inclui atendimento e processos financeiros, fechamos um modelo chamado Veloe com a sua marca (white label). Se ele quiser que a gente faça essa gestão, seguimos o modelo Veloe pra seus clientes (cobranded).

A parceria com C6 Bank segue o modelo de White label e vem desde dezembro de 2020. Agora eles passaram a oferecer aos clientes a C6 Tag, com tecnologia Veloe, para o pagamento automático de pedágio e estacionamentos.

A empresa possui outras iniciativas semelhantes a esta parceria? 

Sim, temos outras parcerias com grandes empresas como BTG+ e Digio, com a solução da conta de pagamento focada em motoristas de Uber. Outro setor que está olhando para essas soluções são os times de futebol. Nós já temos adesivos do Corinthians, Flamengo, Palmeiras, Bahia, Fluminense, Botafogo e Grêmio, em um modelo que ainda remunera o clube pela utilização do adesivo e dá isenção de 12 mensalidades para os sócios torcedores. Esse é um movimento que consideramos bem importante do ponto de vista de marca porque cria identificação da Veloe com um público bem representativo no mercado.

Jessica Marques para o Diário do Transporte