Covid-19 evidencia peso do transporte terrestre no PIB

maio 12, 2020 0 Por Site Fetransul

Número representa uma média e pode estar subestimado, afirma autora do estudo

Dois anos após a greve dos caminhoneiros, ocorrida em 2018, a importância dos transporte rodoviário de carga reaparece durante a pandemia. Embora a participação dessa atividade no Produto Interno Bruto (PIB) seja de apenas 1,4%, sua importância não fica restrita somente a este percentual, segundo indica estudo realizado pela Fundação Getulio Vargas (FGV).

“Pelo menos 29% da economia brasileira roda diretamente em cima dos caminhões”, resume a autora do levantamento, Juliana Trece, pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da FGV. A estimativa leva em consideração a “representatividade” do transporte terrestre de carga no PIB – o quanto da economia depende, em alguma medida, da atividade. “Esse número tem tudo para estar subestimado”, admite a economista, frisando que trata-se de uma média.

Na verdade, das 68 atividades econômicas listadas na Tabela de Recursos e Usos (TRU), em 66 o transporte rodoviário está presente como insumo, esclarece Juliana. Elaborada periodicamente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a TRU detalha as relações (a oferta e demanda de bens e serviços) entre os segmentos da economia.

“A última milha é sempre feita de caminhão”, resume o presidente da Confederação Nacional do Transporte (CNT), Vander Costa. Levantamento realizado pela Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística (NTC&Logística) indica leve melhora na demanda por transportes rodoviários pela segunda semana seguida.

Entre 27 de abril e 3 de maio, a demanda geral (medida em volume de cargas) apresentou queda de 41,4% em relação aos níveis anteriores à pandemia. Apesar da retração, o percentual foi inferior ao registrado na semana anterior (-44,8%). No período imediatamente anterior, entre 13 e 19 de abril, a retração na demanda ficou em 45,2%.
De acordo com a pesquisa mais recente da NTC&Logística, a da semana encerrada em 3 de maio, os setores menos afetados foram o do agronegócio e o da indústria farmacêutica, conta Francisco Pelucio, presidente da associação.
No extremo oposto, o mais afetado é o dos fabricantes de eletrodomésticos da linha branca (fogões e geladeiras), cuja demanda por transporte rodoviário decresceu 63,5% no período.

“Por mais que a atividade econômica esteja retraída, é preciso transportar nesse período de crise alimentos, remédios e equipamentos médicos”, justifica Costa, da CNT. “Do aeroporto até o hospital, é o caminhão que vai levar o respirador”, exemplifica.

Em meio à recessão aguda que se desenha, o transporte de carga terrestre é que vem sustentando a fraca atividade econômica no país, argumenta Juliana Trece, da FGV. “Agora, [o transporte rodoviário de carga] tem mais importância ainda porque está conseguindo segurar o pouco da economia que está em movimento”, acrescenta ela.

Para chegar à participação de 1,4% do PIB calculada especificamente para a atividade de transporte rodoviário de carga, a economista da FGV utilizou uma média de 2010 a 2017 de dados extraídos das Contas Nacionais do IBGE e da Pesquisa Anual de Serviços (PAS).

Já a estimativa do impacto direto (29%) que o transporte rodoviário de carga tem nas atividades mensuradas no Produto Interno Bruto exigiu análises por três ângulos econômicos distintos. Entre elas, uma análise do consumo intermediário (o quanto uma determinada atividade econômica depende do transporte rodoviário de carga para produzir). E uma análise das “interrelações para frente”, que toma por base o quanto uma mudança no transporte rodoviário de carga pode afetar outras atividades. O impacto direto foi calculado a partir de dados do período de 2010 a 2017.

Informações compiladas pela Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística a partir de várias fontes indicam a existência de 527,2 mil caminhoneiros autônomos no Brasil e 153,3 mil empresas do ramo. O faturamento anual da atividade de transporte rodoviário de carga soma R$ 328 bilhões em 2019.

Fonte: Valor Econômico – Por Rodrigo Carro — Do Rio