Bancos gaúchos renegociam empréstimos na pandemia

junho 23, 2020 0 Por Site Fetransul

Movimento se deve à massa de pessoas com dificuldades econômicas

Os bancos, em geral, estão intensificando as renegociações de dívidas e aumentando a carência no vencimento de parcelas em várias linhas, como crédito pessoal, imobiliário e para aquisição de veículos e capital de giro. Além de tentar manter a já combalida economia brasileira funcionando, o movimento é inevitável tendo em vista a massa de pessoas com grandes dificuldades financeiras devido à pandemia. 

O Banrisul passou a oferecer a prorrogação de crédito imobiliário por seis meses para pessoas físicas e jurídicas a partir de 16 de junho. As parcelas a vencer dos próximos 180 dias (seis meses), de contratos de crédito imobiliário de clientes pessoa física ativos e adimplentes podem ser prorrogadas.

O banco gaúcho já realizou, de 16 de março a 5 de junho, a prorrogação de cerca de 205 mil operações para clientes pessoa física e jurídica, no valor total de R$ 591 milhões em parcelas suspensas no período, as quais tiveram seus fluxos de vencimentos readequados. O banco tomou a decisão, ainda, de não negativar clientes, nem protestar títulos nesse período da pandemia.

De acordo com a assessoria de imprensa, o Banrisul vem anunciando diversas medidas de apoio aos clientes, oferecendo alternativas que minimizem os impactos da crise desencadeada pela Covid-19. “Entre essas iniciativas, destaca-se o desenvolvimento de produtos destinados ao reparcelamento dos compromissos de curto prazo dos clientes pessoa física e jurídica de todos os portes e segmentos, adicionando carência para reiniciar os pagamentos” – ou seja, adiar o pagamento das parcelas sem prejuízo ao cliente.

Podem ser renegociadas as linhas de crédito geral, incluindo o financiamento imobiliário, do agronegócio, desenvolvimento e crédito consignado e contas com limites. O banco garante que é possível fazer a adesão de forma exclusivamente digital. Porém, quando necessário, é possível comparecer à agência bancária. Mas antes é preciso agendar dia e horário pelo aplicativo ou pelo site do banco.

O Sicredi afirma que está tentando atender às necessidades dos associados. “Seguimos à disposição para analisar todas as demandas de prorrogação do vencimento de dívidas de nossos associados neste momento de redução e reorganização das atividades econômicas”, afirma. O site da instituição tem uma aba específica para negociação de débitos – Negocie Aqui. Porém, não há um procedimento padrão para o alargamento de prazos, abatimento de encargos ou suspensão da negativação de devedores.

O Sicredi informou, por meio da assessoria, que os casos são analisados individualmente “visando encontrar a melhor alternativa para cada associado, pois as cooperativas atuam em diferentes regiões, que possuem características próprias”. Por esse mesmo motivo não há um levantamento do número de contratos já renegociados nas 110 cooperativas do Sicredi.

De acordo com a Febraban, as concessões de crédito, para o período de 16 de março a 8 de maio de 2020, somam R$ 540,3 bilhões. Eles incluem contratações, renovações e suspensão de parcelas.

O setor bancário já renegociou 8,5 milhões de contratos com operações em dia, que têm um saldo devedor total de R$ 468,2 bilhões. A soma das parcelas suspensas dessas operações repactuadas totaliza R$ 47,5 bilhões. Segundo a federação, “esses valores trazem alívio financeiro imediato para empresas e consumidores, que passaram a ter uma carência entre 60 a 180 dias para pagar suas prestações, sendo que a maioria dos agentes beneficiados com prorrogação de parcelas é representada por pequenas empresas e pessoas físicas (R$ 26,4 bilhões)”. 

Educador financeiro recomenda negociação consciente

É preciso acordo condizente com a realidade do devedor, afirma Lopes
/FREDY VIEIRA/JC

Quando não está sendo possível honrar o pagamento de empréstimos e financiamentos pode parecer que qualquer negociação será melhor do que continuar devendo. Mas o economista e educador financeiro Everton Lopes ressalta que é preciso fazer um acordo condizente com a realidade financeira do devedor.

De maneira geral, o ideal é parcelar no menor número de vezes possível, mas o mais importante é que o valor da parcela precisa caber no seu bolso. Caso contrário, o que parecia uma saída se torna mais uma armadilha.

O tipo de negociação vai variar de acordo com a situação financeira de cada pessoa e com o tipo de endividamento que ela possui. Para algumas pessoas talvez este não seja o momento ideal para a renegociação.

É o caso de pessoas com dívidas muito altas (os chamados superendividados) ou que tenham débitos com cartão de crédito e cheque especial (em que a cobrança de juros é enorme). Aqui talvez caiba esperar um pouco mais para que a situação financeira da pessoa melhore, para que haja maior segurança financeira e para que seja possível honrar de verdade o acordo, indica Lopes.

O educador financeiro lembra que os bancos continuam podendo negativar os clientes inadimplentes, mas salienta que isso não pode mais acontecer depois de só 10 dias de atraso. Durante a pandemia, o atraso deve ultrapassar 45 dias para que o nome fique sujo. “Um projeto de lei (PL 675/2020) que impede a inclusão de cliente devedor à lista de negativados enquanto durar o período de calamidade foi aprovado no Senado Federal”, lembra o educador financeiro, com a expectativa de que a lei seja sancionada em breve.

Lopes lembra que muitas pessoas estão tendo dificuldades em pagar ou negociar seus contratos de empréstimos devido à pandemia, à perda de renda temporária e até mesmo devido ao desemprego. “A prioridade nos gastos familiares deve ser a compra de bens e serviços essenciais e os compromissos financeiros ficam em segundo plano”, diz Lopes.

Fonte: JC – Roberta Mello